“Amor não nos faltava. Mas a educação também não”. Esta é uma das frases que Maria Dorinda Duarte usa para nos falar do pai, José Maria Rodrigues. Mais conhecido como mestre Zé Maria, o seu nome ficou gravado a letras douradas na arte da olaria em Ribolhos, mister que, por sua vez, também aprendeu com o pai, Gabriel.

Além do artesanato, também passou, após casar, pelo minério e, apesar de a família estar a crescer, aproveitou parte das receitas para investir em terras. Ao mesmo tempo, construiu a casa de família e criou oito filhos.

A mãe, recorda Maria Dorinda, era liberal e foi “uma jovem por dentro até morrer”. Já o pai “era um homem bom de coração”. E conta: “Quando íamos vender a loiça, se vendesse tudo – cada carga representava 120 escudos – ele dizia: “vamos comer”. E comíamos um prato de batatas com sardinhas ou assim. Se não desse esse dinheiro, comprava-me um pão com marmelada e um suminho e ele bebia um copo de vinho sem nada. Mas dava-me comer a mim”. São histórias que, frisa, não retratam a arte, mas fazem parte do oleiro.

Apesar de não ser um homem de afetos, outras caraterísticas se destacavam, como a boa gestão, o profissionalismo e o cuidado com a loiça que era o sustento da casa. Era também o mais galhofeiro dos irmãos e tinha sempre uma brincadeira.

No que ao trabalho diz respeito, conta que os pelões de barro eram recolhidos em Ribolhinhos ou no Carvalhal, e com um cesto acartados para junto do caminho, sendo depois transportados em carro de vacas até à aldeia, onde ficava estendido a secar antes de ir para a oficina. A roda estava num cantinho da cozinha, enquanto na outra extremidade ficava a lareira onde se preparavam as refeições.

O seu pai fazia panelas de várias dimensões, talhas, tigelas e pucarinhos do chá, que iam a cozer ao sábado de manhã para serem vendidos ao domingo, em Pindelo dos Milagres, Lamas, Carvalhal, Adenodeiro, Rio de Mel, Alva, Soutelo e Castro Daire. Já o tio António e o tio Domingos Rodrigues, bem como o tio Francisco Luís, tinham as suas próprias localidades.

Com vaidade, diz que o mestre Zé Maria tinha “a loiça mais jeitosinha”, adornada com recurso ao esquinote, que era usado também para cortar o barro que sobrava. Os seus utensílios incluíam ainda o trapo, muito macio e lambuzado de barro; a escanavita, que servia para colmatar alguma racha que pudesse haver nas asas; e o fanadoiro, com que se fazia crescer a vasilha.