Fernanda Maria Almeida da Silva cresceu no seio de uma família de seis irmãos, em Ribolhos, no município de Castro Daire. “Foi uma infância boa”, garante.

Entre as memórias que partilha neste testemunho estão as associadas à figura do seu avô, o mestre Albino, e que têm passado ao longo de gerações, quase como uma herança. Ligado ao artesanato e à olaria, fazia e vendia peças do afamado barro negro de Ribolhos, que adquiria a tão característica tonalidade escura durante a cozedura.

O processo de confeção implicava várias etapas, explica Fernanda Maria, enumerando que o barro tinha de ser extraído, posto ao sol para secar, crivado na peneira e picado. Os mais novos já colaboravam em algumas fases, incluindo o transporte das peças para serem cozidas na fornalha, com fetos e cinza por cima. Inevitavelmente, essa ajuda dava origem a diversas peripécias.

“É curioso que que se a loiça partisse depois de cozida o meu avô não dizia nada, mas ficava chateado se fosse ainda a cru”, conta.

Entre as peças que fazia estavam caçoilas, panelas altas, as bilhas para a água e chegou até a reproduzir a torre de Fátima, após uma visita ao santuário.

Por ser muito frágil, era a chamada loiça pobre. Ainda assim, realça, as peças de barro negro faziam parte do dia-a-dia da comunidade. Fernanda Maria recorda, por exemplo, que em dias de lavar a roupa no Rio Paiva, numa altura em que havia ainda colchões de palha, a panela para cozer as batatas também ia, tal como as sardinhas para assar com pimentos. E enquanto os têxteis ficavam a corar, mães e filhas banhavam-se e brincavam na água.

Na família existem ainda diversos exemplares, como uma bilha de água ou uma talha que chegou a funcionar como alambique, onde a mãe fazia o vinho branco doce e curtia as azeitonas.